Segundo Osho “a capacidade de estar sozinho é a capacidade de amar.” Não sei, ao certo, se isto é tão preto no branco, meio que causa-consequência. Também não sei se sei de alguma coisa de fato. Posso, no máximo, supor que sim. Mas, vejo tanta verdade nessa frase. Encontro tantas pessoas que depositam no outro a esperança de uma vida melhor, como se o outro fosse sua metade e, o que é pior, sua melhor metade. Não quero aqui ostentar uma idéia anti-romântica – sou romântica demais para tanto -, mas entendo que cada ser humano é completo e precisa ver-se como tal, embora isso geralmente não ocorra. Não esperar pela sua metade para saber-se apto a ser feliz. Até, porque, por vezes, ao se conhecer o suposto ser amado, passa-se a ser menos feliz, quiçá, infeliz (mesmo que se assuma mais tarde). Parece-me que entender-se completo quando só, como se amparado por si mesmo, estrutura-nos melhor para tirarmos proveito (no que há de mais positivo em tal termo) de um relacionamento. Por quê? Porque amor é troca. É um doar de si um tanto e receber do outro um tanto não idealizado, mas real. Não é esperar que alguém venha trazer à nossa vida o encantamento que não conseguimos nela ver. Nossa tendência - mesmo que inconsciente, ou justamente, por isso mesmo - a querer voltar a sermos amados como um dia fomos (fomos?) tende a nos levar a armadilhas. Idealizamos quem nos salve de nós mesmos, quem nos ampare e nos leve para um mundo de sonhos e felicidade. Mas, o real nos engole logo quando iludidos. Questão de meses? Anos?
Há de se ser por inteiro. Sim: sonhar muito. Contudo, um sonho que nos impulsione para frente, para mais. Não o sonho que anestesia, mas o sonho que nos faz voar. Só podemos nos encantar verdadeiramente quando já estamos encantados por nós mesmos, por nossas capacidades, por nosso modo de sentir e ver o mundo. Quando estamos em pleno contato com nossa essência, com o que nos faz vibrar. Aí, podemos trocar. É necessário que se tenha para dar, para receber sem ser depósito, para se receber e somar, para dar e somar. Aliás, na brincadeira da soma, sabe-se, assim, que um mais um é dois e não um. (I don’t wanna be the other half / I believe that one and one make two – Alanis Morissette) Também vejo aqueles que pensam que apenas têm a dar, que já estão completos: aí caímos no outro extremo. Pessoas que se veem tão auto-suficientes, que se bastam e que só tem a “preencher” no outro. O resultado disso tampouco pode ser satifatório, uma vez que que o outro também precisa ser reconhecido na relação.
Saber-se completo e único, mas com uma falta interna que o leva a querer. Querer alguém ao seu lado, alguém para compartilhar suas potencialidades, com quem ter conversinhas antes de dormir, que saiba gargalhar com, ajudar, alguém também completo e, portanto, cheio de vida, capaz de sonhar com. Querer “estar com” e neste “estar” aprender na relação, fazendo o espaço entre os dois se tornar encantado. Enfim, o encantamento, mas construído pelos dois, cheio de sonhos e realidades, de potência e vontade de viver. Querer não adiar mais a alegria urgente que vem deste “estar”. Querer e poder deixar-se ser, sem julgamentos morais, sem visões critalizadas, sem idealizações.
Pode soar piegas, agora. Eu sou. Eu quero isso pra mim.
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