terça-feira, 10 de março de 2009

vida

Chega de queixume. É impressionante como não nos damos conta do quanto somos todos parecidos no que tange a este buraco interior. Esta falta-sem-nome que por vezes nos toma por inteiro e nos imobiliza num marasmo de lamentações. Sempre falta algo. É claro! E sempre vai faltar! Mas, há uma diferença determinante: o modo como encaramos esta falta. É aquela que vai fazer com que nos movamos ou aquela que nos impossibilita de vermos tudo o que temos em nossa vida? Então, dia após dia, viver num dar-se conta de que a primeira opção é muito mais saudável custa. Talvez a maturidade (não a idade, a maturidade!) venha a nos ensinar que “os outros” não são mais felizes. Que “os outros” podem ostentar sorrisos que perfuram a alma por sua inverdade, ostentar “coisas” que mais pesam por sua inutilidade do que trazem alegria. Esta visão um pouco menos embaçada possibilita-nos ver que a maioria não gosta de expor suas fragilidades, evita a tristeza por achar que o oposto de felicidade é a depressão. Um número incontável de pessoas não suporta a idéia de trazer consigo suas falências e substituem seus momentos de maior contato com o “submerso” pelo que dará uma idéia de “felicidade” a si mesmo e aos outros. Vivemos uma época de vitrines… de manequins inertes: pessoas -efeito-de-pílulas-e-gotinhas. Contudo, dar-se conta dessa nossa eterna frustração não é garantia para que não nos sabotemos e amanhã acordemos tirando novas queixas dos bolsos. Se trabalhamos demais, reclamamos que não temos tempo “pra nada”, se trabalhamos de menos, culpamo-nos pelas horas livres. Todas as outras mulheres são lindas, bem resolvidas e magras. Todos os outros homens são charmosos, bem-sucedidos e cheios da grana. A fachada fala mais do que nós. Pior quando a meta do outro vira a nossa própria meta. Aí, não há como não haver frustração. Como diz Clarice Lispector "suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... ou toca, ou não toca." Mas, é preciso que se deixe tocar; que se seja verdadeiro. Ter amigos de sempre (principalmente os que dizem, também, o que não queremos ouvir), poder sonhar, ir ao cinema, comer pipoca, tomar um choppinho, dormir até tarde no domingo e ler jornal com o sol batendo no rosto faz parte da minha vida assim como os meus tropeços (que são muitos…), como os momentos de maior escuridão, como ter chorado sozinha tantas vezes. Mais do que sabiamente Mario de Sá-Carneiro já dizia “eu não sou eu, nem o outro, sou qualquer coisa de intermédio…”. Necessitamos do outro para vivermos: pelo menos para vivermos mais intensa e verdadeiramente; necessitamos de contato e de contato real: não virtual, não o “bom dia” de sorisso amarelo, não o de agrados superficiais, não o de batidinhas nas costas. Mas, aquele contato que faz o “intermédio” estremecer, ser recheado de sentimentos dançantes (sejam eles quais forem), ser vivo, pulsante. No fundo, o que todos querem é ser amados e amar. O resto é bobagem.

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